sábado, 4 de dezembro de 2010

Candelária

        Durante muitos anos o Cemitério da Candelária foi resguardado e protegido por trabalhadores da Ferrovia Madeira-Mamoré que foram se estabelecendo no local. Muitos, como é o caso dos babadianos, não possuíam recursos ou mesmo motivos para retornar ao país de origem. Depois do desprezo das autoridades. Abandonado por várias décadas, o Cemitério, apesar de fazer parte do acervo da Estrada de Ferro, de responsabilidade do Governo Estadual, encontra-se hoje em situação crítica. O local já foi e continua sendo palco de brigas intensas por invasores de terras que demonstram mais interesse em se apropriar do local do que preserva-lo. Assim, a depredação tem sido inevitável e acontece todos os dias, sem que nenhuma autoridade regional se manifeste. O “fim da história”, alardeado pelo filósofo Hegel – erroneamente interpretado na época – está prestes a acontecer aqui no Estado. Para este filósofo, a história já havia alcançado o seu amadurecimento, o seu apogeu. Em Rondônia será realmente o fim da história da Candelária, caso as autoridades continuem permitindo á destruição deste local que é o início da história do Estado.

Tudo começa quando a Empresa Railway Company adquire, em 1921, a região da Candelária. Isto só acontece depois de 26 anos da obra iniciada pela empreiteira de Percival Farqhar, a área de 2 milhões, 72 mil, 375 metros quadrados – ainda pertencente ao Estado do Amazonas - foi adquirida pela Madeira-Mamoré Railway Company por 20 contos de Réis.
Segundo documentos da época, a terra pertencia a um peruano chamado Suarez Hermana que teria nomeado o local de Candelária, em homenagem a padroeira de seu país, Nossa Senhora da Candelária. A partir daí, a história torna-se estória. Novos documentos surgiram dando posse da terra a outras pessoas que começaram a desmatar o cemitério. Após denúncias, o Ministério Público começou a analisar os documentos. O caso vem sendo examinado pela promotora Aidê Maria Moser. A autenticidade destes documentos são contestadas pela Associação dos Amigos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.

A responsabilidade de ninguém

A Candelária é um Patrimônio Histórico do Estado, e, inexplicavelmente nenhum órgão quer assumir a responsabilidade por sua preservação. Na divisão de Arqueologia da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Ambiental (Sedam), o diretor Josuel Ravane realizou em 95, uma fiscalização minuciosa do local – quando iniciaram as ocupações na área. Ele explica que o Estado funciona apenas como um órgão fiscalizador. A preservação do patrimônio seria de responsabilidade da Prefeitura, por estar localizada no município de Porto Velho. A questão da localidade da Candelária é algo realmente muito interessante, tendo em vista que a Sedam está há poucos metros desta região. Mesmo com a divulgação seguidas de matérias no Diário, sobre a depredação do patrimônio em 1999, a área não foi nem mesmo fiscalizada pelas autoridades estaduais ou municipais. E a depredação da história de Rondônia continua.

Vilas

A Vila Candelária foi construída entre as décadas de 40 e 50 para os ferroviários. “Diversas outras vilas foram feitas na mesma ocasião”, explica o arquiteto Luiz Leite. “A Candelária se tornou mais conhecida em virtude da região da Candelária. A Railway oferecia moradia a seus funcionários”, esclarece. Segundo a ferroviária Maria Auxiliadora Lobo de Souza, são da mesma época: as vilas de Pedro Canga, em Abuña, Penha Colorado, Caracol, Chocolatal e Periquitos.

Início do cemitério

Pequenas cruzes de madeiras brancas iam sendo fincadas próximo ao Hospital Candelária. No início, em 1907, elas não eram mais de 50. Com o andamento da obra no mesmo ano, já não existia espaço para os sepultamentos. A Railway começou a desmatar mais um pedaço da mata à frente do Candelário. Em seus registros finais sobre a obra, a companhia divulgou um total de 21.817, no entanto, este montante não é exato pois centenas de mortos foram enterrados ao longo da construção. Assim, foi iniciado o mais célebre patrimônio histórico do Estado: o Cemitério da Candelária. Muitos engenheiros, médicos e alguns moradores de Santo Antônio e de Porto Velho foram enterrados nesse local, suas sepulturas foram marcadas com lápides de concreto e cercadas com grades.

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Imagem 1 - Cedida pela Profª Jucélia http://asdeliciasdosaber.blogspot.com/

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